quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Jeitosinha - Cap. FINAL

Finalmente: Capítulo XXVIII

- O que Bruno lhe disse de tão importante aquela noite? - Perguntou Jeitosinha, ansiosa, ao travesti Kátia Trovoada.
- Bom, menina... Ele chegou aqui todo sem gracinha. Estava bem bêbado, mas nem por isso perdeu a timidez...
- Sim... E então? - A loira mal controlava suas emoções.
- Então eu perguntei como ele queria, e coisa e tal... Ele me disse que era a sua primeira vez num lugar como esse, e provavelmente a última...
- O que mais?
- Bem, ele disse que não estava a vontade, mas que precisava se colocar a teste... Por amor. Na ocasião não entendi nada, pensei que era coisa de bêbado, mas agora entendo...

Os olhos de Jeitosinha brilharam:

- Sim! Como não pensei nisso antes? Ele queria saber se conseguiria se adaptar ao meu estranho jeito de amá-lo!
- Ah, Santa... Carinha de quem estava se adaptando ele fez... - emendou Kátia, com um gesto afetado.
- Vou procurá-lo agora mesmo!

Enquanto Jeitosinha corria para os braços de seu amado, Bruno dava um ponto final em sua relação com Adenaíra. Foi uma longa conversa, que terminou num clima cordial.

- Não me leve a mal... Pensei que pudesse esquecer Jeitosinha, mas... É impossível. De alguma maneira, sinto que quando estou com ela tudo parece se encaixar...
- Se eu tivesse sabido antes não teria quebrado o pino do meu Lego... - lamentou Adenaíra - De qualquer forma, devo-lhe minha vida. Sou grata pelos dias que passamos juntos e pelos seus cuidados. Espero que um dia você e Jeitosinha possam voltar a se entender...
- Não creio ser possível... - Que segredo você guarda sobre ela? Existe algo mais, além da particularidade anatômica?
- Não me force a dizer. Só lhe adianto que sua irmã não é quem parece ser...

Neste momento a porta da sala se abre, de forma dramática.

- Sim, Bruno... Sim, meu amor! Sou sua Jeitosinha! Jamais fui tocada por outro homem que não você!

É claro que àquela altura do campeonato, falar sobre Laura Croft era perfeitamente dispensável. Aliás, ela era uma mulher...
"- Não pode ser ... Eu vi você naquele local deplorável!
- Eu vinha sendo chantageado por Arlindo... Mas não cheguei a entrar em ação! É uma longa história meu amor...

Bruno começou a se despir de sua casca de rancor.

- Eu... eu também só fui lá naquele dia porque...
- Eu já sei... Esqueça, Bruno... Não diga nada... Apenas me beije!

Cabisbaixa, Adenaíra deixou o apartamento de Bruno e seguiu a esmo pelas ruas escuras da cidade.

Jeitosinha e seu homem se amaram loucamente, como estavam predestinados a fazer por muitos e muitos anos.

Não muito longe dali, uma nave espacial alienígena pousava no matagal.

- Porque voltamos, chefe? - Perguntou uma das criaturas verdes.
- Veja com seus próprios olhos! Compramos gato por lebre!

O ET entregou ao colega um exemplar de uma popular revista de mulher pelada.

- Ué... Aquela moça que trouxemos à nave tinha um detalhe a mais...
- Claro! Era um homem disfarçado!
- Como o senhor descobriu?

- Bem, já tínhamos até saído desta galáxia quando resolvi folhear umas revistas que levei de recordação deste planetinha atrasado. Foi aí que me deparei com estas fotos de mulheres nuas e percebi tudo: as fêmeas daqui são, aparentemente, exatamente como as nossas! Tudo indica que estão prontas para reproduzir nossos filhos!

- Que beleza, chefe! O que faremos?
- O óbvio: pegaremos uma outra mulher, nos certificaremos de que ela não tem nenhum complemento indesejável e voltaremos às nossas experiências!
- Então aproveita, chefe... - disse um dos homens verdes, olhando pela escotilha - Vem uma gatona ali!

E foi assim que Adenaíra acabou nas mãos dos extraterrestres. Por mais que os cientistas do outro mundo se esforçassem, continuariam sem entender o mecanismo de reprodução dos humanos.

Adenaíra nunca mais foi vista. E como Jeitosinha preferiu guardar segredo sobre sua experiência com os Ets, o planeta Terra nunca soube que duas irmãs, numa surpreendente manobra do destino, acabaram salvando a humanidade.

Hoje, quem vê na missa dominical Jeitosinha e Bruno, com suas lindas crianças adotadas, nem imagina que por trás daquela aparente normalidade repousa um segredo e uma história surpreendente.

E se você acha que os homenzinhos verdes são a parte mais absurda desta saga, é porque não viram Jeitosinha e Bruno em seus momentos de intimidade...


FIM



Obrigado a você, que acompanhou este Folhetim até o final.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Jeitosinha - Penúltimo capítulo

  Capítulo XXVII

Alguns dias que se passaram desde a morte de Ambrósio. Adenaíra vinha se recuperando da infecção hospitalar. Bruno a levara para sua casa e a convivência era amigável. A moça se esforçava para transformar aquele apartamento de solteiro em um lar, e o rapaz gostava de sua companhia. Mas não conseguia esquecer Jeitosinha e ainda sentia um, digamos, "vazio por dentro", se é que você me entende...
Como era de se esperar, os exames periciais confirmaram que tratava-se da letra de Ambrósio no bilhete. Provaram também que as digitais eram mesmo de Arlindo. Impotente diante da armadilha armada pela irmã, e diante das péssimas condições da carceragem, o rapaz simplesmente enlouqueceu.
Na casa de Jeitosinha todos se esforçavam para retomar as rotinas de suas vidas. Adenaíra escrevera, contando da operação e de como estava feliz em sua nova condição. Omitira, entretanto, que era hóspede de Bruno. No bordel de Madame Mary, Jeitosinha buscava superar a perda de seu amado nos braços de Laura Croft.
O treinamento da loira continuava. Na penumbra de seu escritório, a cafetina continuava instruindo Jeitosinha sobre os mistérios do amor e do sexo, mas ainda eram apenas aulas teóricas, o que já estava deixando nossa heroína impaciente.
- Às vezes sinto que a senhora, deliberadamente, está adiando minha estréia profissional - questionou um dia Jeitosinha.
Pela primeira vez, a sempre segura Madame Mary pareceu incomodada.
- Que bobagem, querida... Já lhe disse, tenho uma imagem a zelar... Tudo virá a seu tempo.
Jeitosinha vinha se abrindo cada vez mais com a patroa. Chegou a confessar o atentado com a serra-elétrica, o plano que incriminou Arlindo e o desejo de se vingar da mãe. Madame Mary a tudo ouvia, sem emitir qualquer opinião. Naquela tarde, entretanto, encontrou Jeitosinha mais fragilizada do que de costume.
- O que houve, criança? - Perguntou a cafetina.
- Não sei o que está havendo comigo, Madame Mary... - Disse a loira, com a voz embargada - Talvez seja a falta de Bruno, ou o remorso por ter tirado a vida de meu pai... Mas o fato é que estou fraquejando. Começo a achar que talvez mamãe não seja assim tão culpada pelo meu destino. Talvez seja a maior das vítimas, preservando um segredo por tantos anos apenas para poupar a todos da ira de Ambrósio.
- O que você quer dizer com isso? - perguntou Mary.
- Quero dizer que estou cansada de ódio e sofrimento. Vou buscar minha felicidade. E começarei procurando mamãe e dizendo que a perdôo...
- Não creio que você precise procurá-la... - disse Madame Mary, num tom de voz bastante familiar.
A mulher aproximou-se do fraco abajur que iluminava o escritório. Com lágrimas banhando o rosto, retirou sua máscara...
"- Mamãe? É você! Não pode ser!
- Claro que sou eu, querida... Você acha que com o salário de contínuo do seu pai conseguiríamos criar sete filhos e ainda comprar pra você a coleção completa da Barbie?
- Então é por isso que o meu treinamento nunca terminou! Você não queria prostituir a própria filha!
- Sim... Este foi apenas um dos muitos sacrifícios que fiz por você. Fui eu quem joguei fora os restos mortais de Ambrósio e limpei a bagunça da sala... O telefonema e o bilhete falando da pescaria também foram invenções minhas.
- Então... Papai realmente havia morrido? - espantou-se.
- Sim! Só não me pergunte como ele voltou à vida. Talvez tenha sido um milagre dos céus para poupá-la, Jeitosinha. Você já havia sofrido demais, e aquele plano da serra-elétrica era simplesmente ridículo... Você deixou suas digitais espalhadas pela casa inteira! O segundo crime foi muito mais requintado, e ainda puniu o chantagista do Arlindo!
Jeitosinha abraçou a mãe, emocionada (Imagine uma música melosa, executada por um naipe de violinos...). Finalmente, quase tudo parecia se encaixar. Era um novo tempo de recomeço. De repente Jeitosinha percebeu que o bordel nunca fora seu lugar. O que de fato a atraía era o magnetismo de Madame Mary, que não era ninguém menos que Marilena.
Não fosse a saudade que sentia de Bruno, tudo estaria perfeito em sua vida. No final daquela tarde, Jeitosinha se despediu das colegas de bordel.
- Vou tirar um tempo para mim. Preciso repensar minha vida... Talvez volte a esta casa como auxiliar de mamãe, não sei... O importante é que fiz muitos amigos aqui...
Laura Croft chorava copiosamente.
- Está tudo acabado entre nós?
- Sim, Laura... Não adianta. Bruno é o meu único amor. Preciso esquecê-lo antes de poder recomeçar com outra pessoa...
Laura pareceu entender. Tanto que deu a Jeitosinha um conselho bem prático:
- Se você o ama tanto, porque não tenta uma reaproximação? Tudo bem, ele pensa que você é uma de nós, mas você, em contrapartida, flagrou-o nos braços da Kátia Trovoada...
Kátia, o traveco moreno que possuiu Bruno, espantou-se:
- Aquele era o seu bofe? Ih, menina... Você está sofrendo a toa...
- Como assim? - surpreendeu-se Jeitosinha.
E Kátia começou a narrar o diálogo que ela e Bruno tiveram antes do ato de amor... .

Finalmente está acabando!=]